Cosmovisão Vida Cristã

Por que não usamos o Rosário?

25/11/2016

Quando fiz 15 anos ganhei um presente de uma colega, marcou minha vida. A guria não era assim muito minha amiga, mas, o simbolismo do presente ficou na memória. Era um lindo colar, tinha aparência de um rosário católico, uma jóia muito bonita, eu gostava de usar.

Na verdade, só percebi a semelhança do acessório com o terço, um bom tempo depois quando alguém me perguntou se eu era católica, fiquei surpresa com a pergunta, até ignorei. O colar não era um terço, só parecia um, como o rosário é um adereço religioso, e, eu era (sou) religiosa, qual o problema? Era um colar bonito, eu gostava! Também não me incomodei que minha fé fosse confundida, continuei usando, afinal, na época eu era imatura, não compreendida muito bem os problemas do ecumenismo, aquela idéia de que: ‘‘o que nos une é maior do que nos separa”, fazia sentido pra mim. Com o passar do tempo, minha mãe percebeu a mesma semelhança, imediatamente me questionou sobre o uso, achei um exagero, mas, com toda sabedoria que ela tem, me fez enxergar o quanto eu estava sendo hipócrita e desrespeitosa. Isso é a cara da minha mãe, ela é sempre muito direta. Eu não estava sendo sincera comigo mesmo em relação aos princípios que eu havia confessado, estava sendo hipócrita por não me importar com questões primordiais nas quais minha fé se baseia. Ser cristã reformada não é o mesmo que ser católica romana, fingir que não existem diferenças, era (é) falsidade. Minha mãe estava certa, pra variar! Além de que, era desrespeitoso da minha parte, eu estava usando como enfeite um adereço fake de uma peça que carrega significado de fé para outras pessoas, um terço não é uma jóia, é um instrumento de devoção. Seja lá qual foi o motivo que levou alguém fabricar um colar imitando um terço, não foi legal. Menos legal ainda foi eu usar sem me importar com a mensagem que eu estava passando.

É claro que tudo isso pode parecer um exagero pra você também, mas, a questão é que o terço católico (Rosarium Virginis Mariae) carrega um forte significado de devoção à Maria: “a palavra Rosário significa Coroa de Rosas. É uma antiga devoção católica que a Virgem Maria revelou que cada vez que se reza uma Ave Maria lhe é entregue uma rosa e por cada Rosário completo lhe é entregue uma coroa de rosas. A rosa é a rainha das flores, sendo assim o Rosário de todas as devoções é, portanto, tido como sendo a mais importante.” (extraído) — Cristãos reformados não têm Maria como divindade, nem acreditam que ela possa ter revelado algo que traga alguma prática fora do que os Apóstolos tenham ensinado nos Evangelhos, nós não acreditamos que ela atua como intercessora das nossas preces. Cremos em um Evangelho puramente Cristocêntrico, de devoção pura e sincera somente à Cristo, porém, isso não significa que desprezamos a figura de Maria, ela é para nós um exemplo de fé. Entretanto, jamais de devoção como é para católicos. Para nós, usar um rosário não faz sentido.

Todo cristão professo, creio eu, defende a virgindade de Maria no momento em que ela foi agraciada com a semente divina, o cristão reformado crê, e, defende essa verdade. Sua condição virginal ao receber do Espírito Santo a semente dos céus não é discutível para nós, é fato louvável. Nós cremos nisso. Cristo é o segundo homem, e o Apostolo Paulo diz que: “O primeiro homem foi formado do pó da terra, o segundo homem é dos céus.” (I Cor.15:47) — Todo aquele que crê ser Cristo o ”segundo homem”, o único capaz de trazer salvação aos descendentes de Adão, crê na Sua natureza divina, portanto, crê que Maria O concebeu virgem, por obra do Espírito Santo de Deus.

Maria foi a primeira pessoa que creu em Deus na Pessoa de Cristo encarnado, ela o amou, gerou, e o criou. É bendita entre as mulheres por isso. Desde então, todas as gerações a chamam bem-aventurada. (Lucas 1:48) — Embora alguns romanos insistam em acusar cristãos reformados de não a respeitarem, para nós, Maria sempre será bem-aventura, um grande exemplo de fé, serva humilde e obediente ao Salvador de nossas almas. É dela a oração:

“Engrandece minha alma ao Senhor, e o meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador, pois contemplou a insignificância da sua serva. Mas, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso realizou maravilhas a meu favor; Santo é o seu Nome!” – Lucas 1:47-49

A discussão sobre a perpétua virgindade de Maria após o nascimento de Cristo é algo presente desde os primeiros séculos. É a partir do século III que aparecem as primeiras contradições em torno da figura de Maria, a idéia de que ela seria divina, imaculada, deusa-mãe, começa a gerar polêmica na cristandade. No século V surge a primeira referência papal (Leão Magno) à virgindade perpétua de Maria, é o pelagiano Julião de Eclana que defende pela primeira vez a doutrina da imaculada concepção de Maria, a ele se opõe o teólogo cristão Agostinho de Hipona. Os principais reformadores seguem a escola agostiniana, portanto, não defendem a figura de Maria como a tradição Católica Romana passou a defender, mas, é certo que em nada diminuíram sua importância como moça virgem escolhida para gerar a semente divina, muito menos deixaram de reconhecer o quanto bem-aventurada ela foi.

Acho bem incomum que cristãos tratem a figura de Maria com desprezo e insignificância. Isso inclusive me choca! Pois, fui criada com princípios sólidos, ensinada segundo a Escritura para honrar quem tem honra, jamais desrespeitaria a mulher que Deus chamou de bendita. A questão central que difere a nossa fé, é a maneira com que enxergamos Maria, como uma mulher bem-aventurada, ou, uma mulher divina? Como cristã reformada a vejo como uma mulher bem-aventurada, sendo Cristo o Único ser humano divino: “o segundo homem”, como o Apostolo Paulo fez referência. Cristo é o único que veio dos céus para trazer salvação. I Timóteo 2:5,6: “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e o ser humano, Cristo Jesus, homem. Ele se entregou em resgate por todos, para servir de testemunho a seu próprio tempo.”

O terço pra mim não tem significado de devoção, ele reforça todo um conjunto de crenças, o qual eu não abraço. Também não é um enfeite, é uma peça religiosa. Hoje, o colar que lembrava um rosário ficou guardado na gaveta como lembrança do presente que ganhei. Na memória, ficou a marca da importância de ser, e viver aquilo que creio.

Então, por que não usamos o Rosário?

Por uma questão de sinceridade pessoal, nós não cremos; e, respeito a fé alheia, nós respeitamos quem crê. Soli Deo Gloria!

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