Autoconhecimento Vida Cristã

Hipocrisia, a Mãe da Falsa Modéstia

08/12/2016

A etimologia (gosto dessa palavra) de “hipócrita”, deriva do grego hypokrisía (hypokrisis), precisamente é a arte de desempenhar um papel teatral.

Na nossa língua, “hipocrisia” (por influência de escritores cristãos da Idade Média) ganhou o sentido de: falsidade da interpretação teatral do hipócrita, alguém que finge sentimentos opostos aos que realmente experimenta, com o objetivo de enganar alguém.

Há hipócritas em todas as áreas, mas, o pior hipócrita é aquele que finge para si, que tenta se enganar, se convencer de que é, o que não é. Se o ser humano não consegue ser sincero primeiramente consigo, nunca será com os outros.

Estou sem paciência para lidar com aquele tipo de hipocrisia pensada, que vem vestida em linguajar polido, pose de humildade que exala suave arrogância, tom ingênuo, comedido, porém, não ausente de imposição, déspota mascarado; quando na verdade está cheio de falsidade e, ausência gritante de personalidade. — Sim. A falsidade é inimiga da verdade por esconder na aparência aquilo que vai no íntimo do coração. É claro que ninguém em sã consciência sairá por ai rasgando o peito, colocando a mostra seu pulsar. Entretanto, quando você ensaia um desabafo público, o mínimo de sinceridade é esperado, mesmo que em uma rede social.

No facebook, são os likes que identificam se você está conseguindo atenção, logo, se você compartilha publicamente seus pensamentos, posicionamentos políticos, seus gostos e suas opiniões, sejam elas relevantes, ou não, é porque espera por likes. Ficar constantemente fingindo que não quer chamar atenção enquanto não faz nada para deixar de chamar, é assumir sua hipocrisia.

Mente descaradamente aquele que diz escrever sem pretensão de receber em troca visibilidade, ou, likes. Ora, acaso isso fosse verdade, existem meios de evitar a exposição:

  • restringir o perfil apenas aos familiares e amigos íntimos;
  • desabilitar a opção de fazer postagens abertas ao público em geral;
  • desabilitar a opção de seguidores. – (creio que essa última é a mais eficaz)

Pois bem, tudo isso  resolveria o (suposto) desejo de não chamar atenção, certo?


Digo de forma honesta, incluindo-me, claro! Todos que escolhem usar as redes sociais com o intuído de compartilhar seus interesses; todos, sem exceção, de alguma forma buscam atenção de outros. Seja para você, ou para o que você tem a dizer, se sua escolha foi usar a rede de forma publica, o faz para chamar atenção.

No mundo virtual, buscar atenção tornou-se pejorativo, pois, como de costume, o brasileiro não consegue definir e distinguir as coisas muito bem. Constantemente confunde-se exibicionismo com: pedir a atenção. Ostentar de fato é atributo dos tolos, mas, pedir que as pessoas se concentrem no que está sendo dito é argúcia, uma característica de quem é perspicaz.

Por mais que as pessoas digam que não se importam com likes, elas se importam, não assumem porque vivemos na era do “monopólio das virtudes”, cada um exige de si a necessidade de parecer o mais virtuoso possível. Ainda que falsa, a modéstia tem se tornado a virtude de alguns ícones conservadores na rede. Tenho observado isso principalmente entre as mulheres.

É comum nos depararmos com desabafos gigantescos em perfis de moças que ganharam muitos seguidores por conta das suas publicações referentes a política de direita: ”só quero compartilhar humildemente um pouquinho do que sei – meu objetivo não é ser popular – não quero aparecer”, elas dizem. — Todo esse blá, blá, blá é falsa modéstia, uma forma de vangloriar-se auto-humilhando-se falsamente. É claro que todas elas querem que as pessoas parem e, prestem atenção no que elas dizem. Assumir isso não faz alguém presunçoso, o faz sincero, verdadeiro, correto. Forçar uma aparência ausente de vaidade para se diferenciar dos demais não te faz parecer despretensioso, muito menos te livra da vaidade. Revela sua falsidade. Afinal, tudo é vaidade já dizia o pregador:

Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. – Eclesiastes 1:2

Como mulher cristã, considero importante manter certa discrição, mas, sou enérgica demais para vestir-me dessa máscara invertida da modéstia. Ao descobrir que modéstia é ser naturalmente simples, aprendi ser nobre, moderada, recatar-me em momento oportuno, porém, sem fingir que estou nas redes para passar desapercebida. Assumir isso é distanciar-me do auto-engano e, o mais próximo da dignidade que posso chegar. Segundo Goethe:

O homem nobre pode, em certos momentos, desleixar-se; o homem distinto nunca… Vê-se, por conseguinte, que, para parecer distinto, se tem de ser realmente distinto. – ‘Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister’

Já passei da fase de querer ser a diferentona, sou como todo mundo, uma mistura de capacidades e limitações, um ser humano comum que já percebeu a diferença do que pode mudar e, o que não pode. Os likes pra mim são a resposta da atenção que busco, a quantidade importa, mas, não me move, assim como não determina quem eu sou, isso é construído no meu dia a dia, na convivência com os que me cercam e, nem um milhão de curtidas pode mudar. De fato não me importo com o que pensam, ou dizem sobre mim, mas, me importo que me escutem, pois, creio que meu discurso é relevante. Não quero ser amada, não quero que me achem legal, quero chamar atenção para aquilo que tenho a dizer, se fosse ao contrário, não diria nada. Como ovelha em meio de lobos, sigo o conselho que Cristo deu aos seus discípulos, quero ser prudente como as serpentes, mas simples como as pombas (Mt. 10:16). Então, me proponho a fazer com que aqueles que me olham, se lembrem disso: que a maior virtude que podemos ter é o temor a Deus, buscá-la deve ser prioridade na vida dos homens.

Fruto do Espírito: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas virtudes não há Lei.” (Gal.5:22,23)

Se olhamos para Cristo, ficamos constrangidos em ser “menos pior do que temos sido”, nós buscamos ser sinceros primeiramente conosco, é quando concluímos nossa miséria. Eis o que o Apóstolo Paulo considera humildade: passar a considerar as demais pessoas superiores a si mesmo. (Filp.2:3) — Acho extremamente difícil, porém,  indiscutivelmente necessário.

Quando alguém começa achar que é melhor do que os outros por não cometer os mesmos erros, ou praticar os mesmos atos, dificilmente alimenta virtudes. Uma coisa é você reconhecer o que é certo e seguir, outra é você fazer disso motivo para desmerecer o outro com intuito de parecer distinto e, exaltar sua humildade despretensiosa nas redes sociais.

A verdadeira modéstia não traz uma aparência de piedade, ela é piedosa. Não está no comprimento da saia, na cor do batom, ou, se a moça usa o véu para cultuar (como muitas vezes as fotos compartilhadas tentam dizer); nada disso é importante quando a hipocrisia tomou conta do seu ser. A modéstia traz verdade, transparência.

Na realidade usar de falsa modéstia é assumir que sua imagem vale mais do que aquilo que você tem a oferecer. Ser um suposto despretensioso na rede não torna alguém distinto. Falsa modéstia denuncia falta de autenticidade. Dizer algo estratégico ao invés de honesto demonstra que lhe falta personalidade, e que no fundo você se importa muito mais com o que as pessoas pensam, ou dizem sobre você, do que com aquilo que você está se propondo a compartilhar.

“Precisamos ter certeza de que a nossa compreensão de modéstia flui do Evangelho e leva ao amor pelo evangelho. Se não for assim, nós teremos errado o alvo e nossa modéstia não é nada virtuosa”. – Tim Challies e RW Glenn, livro: Modéstia




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