Sabe aquela história da fábrica em chamas? É mentira.
Você já deve ter lido e relido, inclusive em jornais de grande repercussão no Brasil, que o Dia Internacional da Mulher é em homenagem a um terrível incêndio em que operárias teriam sido queimadas vivas como punição por um protesto (greve) por melhores condições de trabalho. Essa história circulou por anos como sendo a verdadeira origem da data de comemoração à mulher. O suposto incêndio criminoso teria ocorrido em 08 de Março no ano de 1.857 em Nova York, e provocado a morte de 129 trabalhadoras da indústria têxtil. Escolas, cursinhos e até faculdades promovem homenagens baseadas nessa versão que narra a tragédia que na verdade é uma invenção de socialistas franceses. Esses homens queriam continuar promovendo suas ideias e precisavam ocultar a origem soviética da data, de forma que ela fosse mais fácil de engolir no mundo capitalista. Nada mais comovente do que usar um crime absurdo, ainda que inventado, para dar forças às políticas ideológicas das esquerdas, disfarçadas da velha luta ”pelos direitos das mulheres”, não é mesmo?
É difícil encontrar material aqui no Brasil para desmentir o conto das operárias queimadas vivas, alguns anos atrás quase nada se achava, hoje, algumas versões já aparecem. Aqui segue uma delas. Resultado de uma pesquisa pessoal.
Não é segredo que a grande força do movimento feminista contemporâneo vem da sua intensa relação com o socialismo/comunismo. Ao estudar a Revolução Russa, fica confirmado que o socialismo soviético pregou enfaticamente a ”libertação da mulher” através da saída do lar para o trabalho operário. Wendy Goldman, que é especialista em História, estudos políticos e sociais sobre a Rússia e União Soviética, autora de diversos livros sobre gênero e classe trabalhadora, em seu livro: “Mulher, Estado e Revolução”, traz fortes considerações sobre o que ela chama de ”primeira primavera feminista”, que ocorreu a partir da ”revolução operária” em 1.917 a meados da década de 1.930. No livro a autora aborda várias questões que pautavam a política da família soviética e da vida social, entre elas destaco a relação da ideia de opressão com a ideia de casamento e família, ou seja, na raiz do discurso de ”libertação feminina” está o pensamento de que o casamento é opressão: ”Os bolcheviques argumentavam que somente o socialismo poderia resolver a contradição entre trabalho e família… Sob tais circunstâncias, o casamento se tornaria supérfluo.” — Muito mais do que reivindicar direitos trabalhistas as mulheres soviéticas pediam: divórcio, liberdade sexual e aborto (nada muito distante do que feministas ainda pedem hoje). Elas defendiam uma reinvenção das relações entre homem e mulher, pois, segundo os soviéticos, elas viviam presas na dependência financeira de uma economia familiar que resultava em opressão: casamento e maternidade. Para o revolucionário, somente em uma sociedade socialista seria possível ”libertar” a mulher das tarefas domésticas que segundo Lênin, a embrutecia e a impedia de participar da vida social e política, por isso, a necessidade de uma ”emancipação”. O dia 8 de Março surgiu para celebrar toda essa revolução. Foi consolidado durante a 2ª Conferência da Mulher Socialista já em 1.910, por sugestão da dirigente do Partido Socialdemocrata: Clara Zetkin, o objetivo era fortalecer os ideais da revolução e envolver as mulheres na luta política promovendo os seus ”direitos” de acordo com os princípios defendidos pelos bolcheviques. Mais tarde, o próprio Lênin tornou a data um dia comemorativo oficial da União Soviética (1.917). Na Terceira Internacional Socialista, em 1.922, a data foi compartilhada com os demais marxistas do mundo.
“O Dia Internacional da Mulher continuou a ser um feriado comunista até 1.967”, afirma Amy Kaplan. A partir dali, devido a exposição negativa dos regimes totalitários de esquerda, surgiu a necessidade de tornar a data aceitável a um mundo cada vez mais capitalista. Sem abrir mão de suas bandeiras ideológicas, os socialistas investem na propaganda enganosa para difundi-las, logo, a invenção de que em 8 de março de 1.857, tecelãs de Nova York realizaram uma marcha por melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária e igualdade de direitos, começa a nascer. Criou-se então o conto das operárias queimadas vivas, elas teriam sido trancadas na fábrica pelos patrões que na tentativa de impedir a greve por direitos, atearam fogo no local, matando cerca de 130 mulheres. — Uma mentira que ganhou força!
Maria Luísa V. Paiva Boléo levanta uma curiosidade sobre o conto, ao fazer uma pesquisa ao famoso ”calendário perpétuo”, ela revela que no ano de 1.857, o dia 8 de Março calhou em um Domingo, dia de descanso semanal. Acredita-se que uma greve nunca teria ocorrido nesse dia. Mas, há quem argumente, que durante o século XIX, a situação dos operários nas fábricas dos Estados Unidos era de tal modo dramática que o trabalho era de 7 dias por semana. Mesmo assim há mais controversas que confirmam que tudo foi uma invenção. Nem o incêndio, nem as operárias nunca estiveram envolvidos na luta socialista que até hoje as feministas abraçam como sua.
A fabrica em questão é a famosa Triangle Shirtwaist, que de fato foi cenário de um incêndio, mas não foi na data e nem no ano escolhido como marco para homenagear as mulheres, a tragédia também não foi da forma como o conto se espalhou. O incêndio aconteceu em 1.911, um ano depois da 2ª Conferência da Mulher Socialista onde Zetki já havia sugerido uma data, como citado logo acima no texto. — O incêndio ocorreu de forma bem diferente da narrada pelos franceses. A socióloga Eva Blay destaca que o fogo teve início não no dia 8, mas em 25 de março, o motivo seria a combinação entre instalações elétricas precárias e produtos têxteis inflamáveis, ou seja, um infeliz acidente, não um crime punitivo contra grevistas feministas. Segundo Blay, a porta de saída da empresa estava fechada ostensivamente para evitar que os operários roubassem materiais ou fizessem pausas, como era de costume. Na ocasião, morreram 146 pessoas – 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.
Há mais fatos para conhecer. No prédio, onde aconteceu a tragédia, hoje funcionam as Faculdades de Biologia e Química da Universidade de Nova York e, pra que não fique nenhuma sombra de dúvidas, há no local uma placa fixada na fachada, ela destaca que o edifício possui significado nacional para os Estados Unidos, fazendo referencia a história real, um acidente infeliz que matou trabalhadores inocentes que cumpriam sua dura jornada de trabalho como faziam todos os dias. No dia 5 de abril daquele ano, apesar da chuva, houve um grande funeral coletivo que se transformou em demonstração trabalhadora, com cerca de 100 mil pessoas. Afinal, a tragédia tirou a vida de 146 pessoas, e aquelas mulheres e homens que morreram não eram militantes feministas, mas, trabalhadores que por necessidade, se submetiam aquelas péssimas condições de trabalho, que mais tarde devido ao crescimento e consolidação da democracia, assim como a expansão do mercado, viriam melhorar, como podemos constatar nos dias de hoje.
Apesar dos fatos históricos provarem que não existiu feministas operárias sendo queimadas vivas nessa data, quando o 08 de Março se aproxima se torna comum os debates promovidos em torno do incêndio que não aconteceu, do massacre que nunca existiu, e das mulheres que nunca morreram queimadas revindicando direitos políticos. É a desinformação trabalhando em prol das esquerdas. — Com a forte propagação da desinformação, esse conto foi incorporado ao imaginário coletivo de ”luta das mulheres”, e, a data se fortaleceu ao longo dos anos apropriando-se de uma tragédia que em nada tinha ligação com a pauta política que o movimento feminista defende. Nos anos 70, o mito estava consolidado, e o movimento feminista já havia se apropriado da tragédia como trunfo político. Em 1.975 a ONU declarou o período de 75 a 1.985 como a: “Década da Mulher”, e reconheceu o 8 de Março, assim como a UNESCO em 1.977 também reconheceu oficialmente este dia, como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem às ”129 operárias queimadas vivas”. Uma farsa ridiculamente repetida até hoje.
Devido a forte influência do pensamento feminista que domina a mídia e as universidades, muitas mulheres ainda hoje mesmo com a grande facilidade a informação acreditam que de fato operárias foram injustamente queimadas enquanto reivindicavam seus direitos trabalhistas fazendo uma greve.
O movimento segue propagando mentiras porque quer que toda mulher acredite que ele sempre esteve lá em algum lugar do passado lutando por ela. Expor a mentira por trás do ”Dia Internacional da Mulher” pode libertar muita menina dessa ideia. O Feminismo quer mulheres militando por causas políticas especificamente de esquerda, não por igualdade e/ou direitos de toda mulher como costumam dizer. — É evidente que além da capacidade de apropriação histórica, e dissimulação dos fatos, uma das características do Feminismo é roubar a voz da mulher para o movimento, transformando assim qualquer discurso feminino em discurso feminista. Dificilmente as mídias dão espaço para que mulheres independentes questionem essas contradições que envolvem o movimento, e cada vez fica mais difícil desassociar o feminismo da mulher. Aos poucos, a coletivização da mulher está apagando a individualidade feminina, e extinguindo sua capacidade de falar independente do movimento, que embora líderes de coletivos feministas tentem negar, é de fato, um movimento político e partidário exclusivamente de esquerda.
A promoção da agenda Feminista corresponde aos ideais socialista, já não há mais como tentar esconder. As mídias, assim como os planos educacionais do nosso país, trabalham em prol da disseminação política sem contestação para fazer da mulher uma escrava intelectual. Mas, você não precisa do Feminismo. Nenhuma mulher precisa!
Fontes: Renée Côté, Sylvie Dupont, Francine Cloutier, Editions du Remue-Ménaqe, 1 de jan de 1984 – (O Dia Internacional da Mulher – Os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas); Cobertura, fatos e controvérsias, por Adriana Jacob Carneiro em 16/03/2010, edição 581, Observatório da Imprensa, ISSN 1519-7670 – Ano 18 – nº 840; — AH Aventuras na História: Dia da Mulher: Sabe aquela história da fábrica em chamas? É mentira., 08/03/2018.
Indicação de leitura: Mulher, Estado e Revolução: política da família soviética e da vida social entre 1917 e 1936. Escrito por Wendy Goldman, historiadora e professora da Universidade Carnegie Mellon.
[texto escrito em 2015 para a fan page MCF – atualizado e publicado no meu antigo blog em 2016, revisto e publicado aqui 2017-2018]